sábado, 29 de outubro de 2005

Nós

Saio de mim para experimentar de vez em quando esse delírio que é ser nós. Esse súbito eclipse, exercício do improvável, desprovido de caminhos a trilhar, de promessas a cumprir.

A soma do eu e do tu: um nós permeado de silêncios, de dúvidas e de incertezas. Um nós que desafia toda a racionalidade e a poesia, um nós cheio de espaços vazios que se preenchem inexplicavelmente quando nossos olhares se encontram. Um nós breve e transbordante, escrito pelos espaços anônimos, em momentos carentes de testemunhos.

Um nós que vive e morrerá sem que o mundo o eternize e o transforme em melodia, um nós que à luz do dia parece fadado a todo tipo de infortúnios, mas que no aconchego de nossas almas parece ser o paraíso perdido, uma ilha solitária que somente eu e tu conhecemos, onde barcos não aportam, onde nada mais acontece a não ser a concretização do que parecia impossível.


Foto: Jodie Coston

6 comentários:

Anônimo disse...

Flavia tem um pedaço e bolo pra vc tbem la...

Anônimo disse...

Lindo e verdadeiro... como Eduardo e Mônica :)
Porque partes que nem sempre são complementares também se juntam.
Espero que esta junção improvável a faça feliz, porque no final é somente isto que importa!
Beijão, querida!

Ps.: por que será que tem pessoas que quando escreve a gente pensa: "eu poderia ter escrito isto, porque também já vivi..."?

Anônimo disse...

este nós que não existe é o mesmo que me está matando.
saudades do que foi...

te beijo amiga

Anônimo disse...

É sempre um experiência imperdível.
Beijo, querida.

Anônimo disse...

Se eu tivesse que escolher uma cidade para ter nascido… Digo isso movido por um certo romantismo, porque sempre acabamos elegendo onde nascemos como o melhor lugar do mundo. Nossas raízes (acaso existirão mesmo raízes em seres tão nômades?) parecem superar a pobreza ou a mesquinhez da terra que viu florescer seus primeiros sonhos, ainda que tenham sido sonhos menores…
Se eu tivesse que escolher uma cidade para ter nascido… Bem, há tantas nobres e deslumbrantes cidades mundo afora! Já nem lembraria de Paris ou Londres, pretensão demasiada que representariam para quem nasceu num distante e desconhecido Terceiro Mundo. Istambul ou Cairo, Moscou ou Dublin, ou…
Nascer além do que se é hoje, atado à língua que arma e desarma nossas esperanças, articula confissões que não faremos por falta de coragem em dizer…
Pois é, Flávia, eu gostaria de falar, hoje, uma língua estrangeira, repleta de eloqüência, de expressões grandiosas, de possibilidades maiores, para poder falar com você. Talvez eu devesse ter mais méritos literários para explicar-me, para que você não me julgue pretensioso ou inconveniente. Mesmo porque o que eu gostaria de lhe falar não se pode expressar com duas ou três palavras óbvias e apressadas… Eu bem sei que você não merece o óbvio, esta profusão de lugares-comuns com que as pessoas cada vez mais pretendem construir um diálogo que jamais acrescentará um cristal que seja de entendimento.
Se eu tivesse podido escolher uma cidade para ter nascido… eu escolheria “Fortaleza”! Esta, a razão pela qual lhe escrevo. Preciso esclarecer esse desejo impossível, dizer-lhe, como uma confidência, o que isso significa de fato; enfim, porque, entre tantas outras muitas metrópoles deslumbrantes, eu teria amado verdadeiramente a luz dessa sua cidade mágica!
Eu nunca estive aí, não me lembro de ter assistido a reportagens ou a filmes que mostrassem sua cidade. Mas eu sinto como se houvesse nascido aí, há muito tempo, há cem anos (!), se me permite o absurdo, e gostaria de lembrar, lembrar, lembrar, como quem não se entedia com o novo que lhe abre as cortinas dos tempos dourados.
E é dessa cidade que eu gostaria de lhe falar! Falar como se houvesse vivido aí, pedir a você que me faço passeios que eu lhe puder dizer por onde seguir, que rua , que praça, que árvores contemplar com seus olhos de hoje, mas com a mesma euforia de tantos anos…
Eu sei que parece absurdo e irracional o que lhe digo; mas, por favor, me dê uma oportunidade de explicar-me. Ou melhor, é um desafio que lhe proponho: me fale da cidade que vou lhe contar o que sei sobre ela, me diga o que mudou, me fale do que reconhece no que eu contar.
Sempre pensamos em ir adiante: os da província para a capital, para as metrópoles sedutoras; os do mundo subdesenvolvido para os centros internacionais… Todavia, penso que as grandes cidade do Ocidente envelheceram… Temo pelo futuro que as aguarda, com seus cemitérios abarrotadas de ilustres moradores.
Talvez você também pense em ir-se embora…
Bem, há muito o que propor nesse nosso encontro! Se você quiser me dar uma oportunidade… Então, eu lhe direi que estudei no Liceu do Ceará; gastei toda a infância no Passeio Público, falarei das frutas nas árvores das ruas, nos velhos sobrados, no “Consulado da China”…
Percebo, pelo que encontro no seu blog & flog, que você é uma pessoa incomum, uma promessa valiosa, um talento de pérola rara… Bem, então, imagino que a literatura é nosso banco de jardim. E a literatura, essa arte na qual você mostra tanta perícia, é mais perversa das artes, a mais difícil, a mais poderosa. Eu gostaria de tentar, mesmo sabendo que todo diálogo é uma ilusão.
Com carinho, Luiz. (almeidaluiz@hotamil.com.br)

Anônimo disse...

É incrível como as impressões sobre seus textos remetem à certeza do amor concreto, sem dúvida da existência, viva o amor, seja feliz...você é alguém apaixonante.