segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Caducifólias

Foto: Árvores decíduas da Noruega, extraída da Wikipedia

Nunca entendi o tempo.
Quando menos devia,
eu quis apressá-lo...
Disse-lhe: “corre!
Ele não me ouvia,
andava bem devagar 
como criança birrenta.
E eu só queria futuros,
viveres a frente...
não era feliz no presente

Uma vez tentei enganá-lo,
deixá-lo para trás esquecido.
Tentei fazer do meu jeito
o meu momento.
Mas o caminhante lento,
de passo arrastado,
me forçava a esperá-lo.
Ainda é cedo” sussurrava
com calma tamanha,
que me fazia chorar

Depois vi que era em vão.
Avançava páginas em branco
e escrevia lá adiante
minhas próprias histórias.
O tempo ia lentamente
desenhando no vazio
que eu deixava pra trás
me fazendo desacreditar
na metamorfose sufocada
entre as paredes do passado

Faltava sempre coerência
entre mim e o tempo
cansada, parava de caminhar
e ele ia embora na frente
o tempo passava por mim
eu não tentava alcançá-lo
sua poeira pairava sobre tudo
meus pés iam ficando gelados
eu me cobria de inércia
até ir sumindo, sumindo...

No silêncio do meu inverno
o gelo agarrou-se às raízes
derrubou-me folhas
secou-me os galhos...
Em mim não há ninhos
flores ou borboletas.
Sou inóspita.
O que restou é antigo,
é pretérito 
e é imperfeito...