sexta-feira, 11 de novembro de 2005

Noite





Quando a noite caiu pesada sobre nós, eu ainda ouvia teus chamados ao longe. Em meio a tantas brumas, não podias sequer enxergar meu rosto, nem a saudade que nele se antecipava ou o desespero que nele havia.
Sim, os pontos de luz que vias caírem ao chão eram os que se desprendiam da minha alma, abandonando meus olhos. E as sombras que não decifraste, eram uma dolorida coreografia que se desenhava na escuridão: a dança de minhas mãos estendidas, lutando contra a partida, tentando ainda alcançar-te.
Em vão.
A noite caía... mais e mais.
A noite sempre cai, mesmo que sóis teimem em acender-se dentro do peito num último suspiro. Um dia ela cai sobre todos.
E no meio da noite, daquela última noite em que o sono não veio, ecos do passado, vozes vindas ninguém sabe de onde, nos espreitaram enquanto relutávamos contra o inexorável. É preciso, nessas horas, render-se à mãe-eternidade quando ela nos chama para um consternado abraço, enquanto a madrugada se prolonga em seu vagaroso tormento.
Depois dessa noite, não mais conseguirás ver meu rosto, mas te lembrarás dele nos olhos baixos dos infelizes que encontrares pelas ruas, no sofrimento dos mendigos de mãos abertas à espera do nada, na súplica silenciosa daqueles que velam a perda dos que mais amam. Saibas apenas que a exata expressão que ostento agora é a da aflição, e a marca que denuncia este corte agudo é a cicatriz que todo adeus deixa impressa nos órfãos do destino.
Tem cuidado agora, já que no meio da noite os caminhos certos e incertos se confundem; mas urge que sigas em frente. Faze-o por mim, por ti, porque isso é sensato. E quando a noite se for - porque ela se vai, ela sempre se vai - ficarás com a sensação de que tudo foi apenas um sonho. Esquece-o em meio à manhã que te sorrirá.
Nosso trajeto foi trilhado com plenitude, e o chão que deixamos para trás gerará flores vermelhas. Tua mão largou a minha, mas minha alma nunca abandonará a tua.
A realidade se encarregará de lembrar-te que a vida continua, e o retrato da memória te dirá, nas implacáveis noites futuras, o quanto eu te amei.

8 comentários:

Anônimo disse...

Amor... desta matéria somos feitos.
Fina pele que nos envolve.
Forte aço que nos dá coragem.
Doce ternura que nos acalanta a alma.
Amargo fel que nos tira a segurança e o chão.
O amor é feito destas ambiguidades que nos prendem e não nos deixam desistir...
Às vezes é porta, noutras é solidão.
Bom fim de semana!!

Anônimo disse...

Corrigindo meu e-mail no comentário do post anterior:
almeidaluiz@hotmail.com.br

Anônimo disse...

Quando não podemos evitar esta noite escura, resta-nos serenidade para atravessá-la. Beijo, querida.

Anônimo disse...

Flavia, acessei teu blog pelo link dos comentários do nel. Muito bacana seu espaço apenas estou achando você triste. Respeito e lhe digo: liga-não tudo passa, tudo gira na órbita do transitório.
Abraço n'alma.
Diovvani.

Anônimo disse...

que texto!
:) bjs

Anônimo disse...

Beijinho, Flávia. Já estou quase desenrolando!

;o)

Anônimo disse...

Está , Flavinha.

Beijo.

Anônimo disse...

li e nao tenho palavas...