segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Metamorphosis

Foto: Metamorphosis, por Yolanda García

I
É de mim que tu falas
sou teu assunto preferido
escreves sobre o que penso
descreves coisas que vi
mas tu és uma idiota
se crês que somos duas...
dividimos a mesma cela
as mesmas células
embora tu penses
que me abandonaste
que fiquei para trás
eu sou o teu universo
tua única história
suprema testemunha
de quem hoje tu és

II
Não sou a mulher ao lado
sou tua última companhia
não sou reflexo de espelhos
nem me escondo atrás de portas
eu vivo em ti
e a dor que me escraviza
é tua também
os medos que me castigam
trespassaram teu corpo e o meu
não podes te separar de mim
e a ti não posso perdoar
por seres agora o que és
mas se eu pudesse
teria me livrado de ti
se eu soubesse que tu
logo tu
me paralisarias...

III
De nós duas
(tratemos assim se preferes)
fui a melhor parte
 alegre e ensolarada
eu caia, mas levantava
e quando judiada, cantava
contrariando a tudo
eu me acreditava
eu não fui tua larva
eu me via borboleta
mas o chão duro e seco
e teus inúmeros equívocos
nos conservaram lagarta
o tempo nos tortura
 como a um verme cansado
perdemos as asas
pelo teu medo da altura

IV
E assim não voamos
não visitamos jardins
nem paraísos dourados
e eu sei
 que sentes falta de mim
que me procuras por dentro
Mas de ti tenho raiva!
e até hoje não entendo
tuas tantas amarras
tuas grades, tuas teias
 esmurrei em vão as paredes
até sangrarem-me os punhos
neste desumano casulo
que aprisionou a crisálida
retirando de mim
os sonhos
 a beleza
e o direito de florescer em ti