segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Desertos

Foto: So Lonely, publicada aqui

A luz da manhã escancara e revela
os espaços vazios
lá, onde um dia houve alegria
agora, as cinzas preenchem os dias
e ventos frios abraçam as noites

de um peito ferido
resta o remorso dos erros
e um rosto marcado
expõe suas culpas e falhas
nas janelas do tempo,
sobra impresso o passado
na saudade de tantos momentos

porém agora
nada há de ser feito
o vento varreu o chão
apagou histórias e pegadas
e, do solo seco e rachado
não brotam riachos
nem vingam sementes
o futuro é desconhecido...
um imenso deserto
a trilhar calmamente

quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Silêncio


Foto: Silence, de Saeed Razzaghi

Tu não o sabes e assim espero que tudo permaneça: no silêncio mais que absoluto... mas agora andas comigo, ao lado meu, aonde quer que eu vá.
Conheces templos, mares e montanhas a cada novo raiar dos dias.
Nos crepúsculos, enquanto te deitas sobre a relva úmida, eu te digo estrelas.
Sentamo-nos calados por horas, todos os fins de tarde, e tu não percebes que nossas mãos se entrelaçam.
É no teu silêncio que vivo.
Dele surgi.
Durante as noites jogo estórias ao vento, para que alegrem teus sonhos. E bailo sob os luares de maio, para que te enchas de júbilo. 
Prefiro que não descubras quem te acaricia durante as frias madrugadas, quem te furta dos lábios um beijo ao alvorecer e, de teu corpo, anseia por um abraço.
É no meu silêncio que vivo.
Selo meu destino neste mudo caminhar por acreditar que, um dia me encontrando, não irás desejar minha companhia tanto quanto eu a tua.
E, assim, não viverei mais.

Texto revisto.
Inicialmente publicado em 05 AGO 2003.