quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

Silêncio


Foto: Silence, de Saeed Razzaghi

Tu não o sabes e assim espero que tudo permaneça: no silêncio mais que absoluto... mas agora andas comigo, ao lado meu, aonde quer que eu vá.
Conheces templos, mares e montanhas a cada novo raiar dos dias.
Nos crepúsculos, enquanto te deitas sobre a relva úmida, eu te digo estrelas.
Sentamo-nos calados por horas, todos os fins de tarde, e tu não percebes que nossas mãos se entrelaçam.
É no teu silêncio que vivo.
Dele surgi.
Durante as noites jogo estórias ao vento, para que alegrem teus sonhos. E bailo sob os luares de maio, para que te enchas de júbilo. 
Prefiro que não descubras quem te acaricia durante as frias madrugadas, quem te furta dos lábios um beijo ao alvorecer e, de teu corpo, anseia por um abraço.
É no meu silêncio que vivo.
Selo meu destino neste mudo caminhar por acreditar que, um dia me encontrando, não irás desejar minha companhia tanto quanto eu a tua.
E, assim, não viverei mais.

Texto revisto.
Inicialmente publicado em 05 AGO 2003.