
Saio de mim para experimentar de vez em quando esse delírio que é ser nós. Esse súbito eclipse, exercício do improvável, desprovido de caminhos a trilhar, de promessas a cumprir.
A soma do eu e do tu: um nós permeado de silêncios, de dúvidas e de incertezas. Um nós que desafia toda a racionalidade e a poesia, um nós cheio de espaços vazios que se preenchem inexplicavelmente quando nossos olhares se encontram. Um nós breve e transbordante, escrito pelos espaços anônimos, em momentos carentes de testemunhos.
Um nós que vive e morrerá sem que o mundo o eternize e o transforme em melodia, um nós que à luz do dia parece fadado a todo tipo de infortúnios, mas que no aconchego de nossas almas parece ser o paraíso perdido, uma ilha solitária que somente eu e tu conhecemos, onde barcos não aportam, onde nada mais acontece a não ser a concretização do que parecia impossível.
Foto: Jodie Coston