domingo, 6 de dezembro de 2020

Idaho Particular


O que aqui escrevo
não serve para divulgação;
é apenas recurso de autorreflexão.
Desenterro palavras nunca ditas
ou guardadas em gavetas esquecidas.

Para as tardes de conversa,
reservo somente as palavras bonitas
que correm livres pelo sol das manhãs.

Os meus escritos são velhos band-aids
descartados à medida que as feridas se curam.
Revisito o que escrevo, à procura de mapas
para caminhos esquecidos;
lugares que não indico a mais ninguém...

Passagens secretas, becos escuros,
estradas de chão batido,
trilhas íngremes por onde passei.

Estes textos não servem para livros ou microfones,
são úmidos, tristes, salgados...
escondem cavernas, rios selvagens
e antigas casas abandonadas.

Escrevo o oposto do meu alegre discurso;
aqui deixo o resumo dos meus lutos,
das minhas dores,
dos não vividos amores...

Deixo tudo isto aqui... à mercê do julgamento
dos que vivem na superfície...
matéria incompreendida pelos que evitam
os subsolos da alma.

Sim, pode haver pedidos de socorro,
mas não uma existência depressiva.
Tudo ficará bem, no final.
Não! Aqui não há gatilhos suicidas.
Tudo ficará bem.

Aqui há somente um pouco de mim,
do que sonhei... 
e nada do que você conhecerá.

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