Foto: Rio Negro, por Ray Baniwa
Naquela noite havia lua.
Minha alma pediu-me: vai!
A saudade gritou-me: parte!
Cansada, estendi os braços,
senti o vento a me embalar.
Busquei o firmamento,
vi um céu sereno,
salpicado de estrelas.
Eu, que havia estado
no fim do mundo
e não encontrara alento...
Por muitas e longas noites
chorara pedaços da minha vida
até transformá-la,
minuto a minuto,
num imenso rio de saudade.
E as águas profundas
que brotaram de mim,
revelaram-me cidades e aldeias
tais quais os rios de minha terra...
Nascentes que geram vidas,
ouvem lamentos de mulheres,
guardam segredos de guerreiros
e acalmam a sede de animais.
Rios escuros, solitários,
jazigo de náufragos...
Rios sagrados, antigos,
templos dos deuses da floresta.
De dia, cálidos e serenos
banham crianças,
lavam roupas, conduzem barcos,
misturam lendas a esperanças...
Queridos rios da minha terra.
De noite, misteriosos,
carregam monstros adormecidos.
São assim aqueles rios
de águas mornas e ferozes.
Quero misturar minha vida
aos rios da minha terra,
partir com eles para longe
sabendo que jamais voltarão.
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