domingo, 30 de novembro de 2008

Inverno


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Caíam flocos ao chão. O ar pesado parecia decorado por flutuantes pontos brancos. Da janela via-se a paisagem em tons de cinza e o frio silêncio de uma solidão quase materializada.

Do lado de dentro da janela havia alguém, cujos olhos também eram de um inverno cortante. Naquele cômodo era possível ouvir apenas o ar quente que lhe saía dos pulmões e as batidas cadenciadas de um coração que ainda aguardava os dias seguintes.

Havia esperanças de que, em breve, o inverno de seu mundo acabasse. Mesmo que os últimos anos lhe tivessem negado a luz do sol, suas persistentes lembranças eram de alegres verões, de coloridas primaveras.

Sentia saudades de vozes que poderiam ter lhe dito as mais bonitas palavras. Sonhava com o barulho de passos à soleira da porta e uma chave girando naquela velha fechadura. Com o corpo confortavelmente repousado na poltrona, sentia o gosto amargo do nada... Aquele que somente os solitários reconhecem com precisão.

Ao sorver mais um gole de vinho, Blossom Deary docemente sussurrou-lhe I Wish You Love. Seu olhar parou por um segundo numa antiga fotografia do que antes era a felicidade e agora representava o inatingível. Uma imagem de um breve momento vivido, emoldurando sorrisos perpetuados num tempo também congelado.

As únicas certezas que tinha, agora, eram de que o frio persistiria um pouco mais e de que seu mundo mergulharia no último outono antes que o futuro improvável lhe trouxesse o dono da única chave que abriria aquela velha porta.

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