domingo, 18 de setembro de 2016

Cicatrizes

(Republicação. Texto revisto).

Foto: Andy Warhol, por Richard Avedon

As garras afiadas
do passado
cravaram-se em meu peito
rasgaram-me a pele
abriram-me feridas
por onde escorreram
sangue e lágrimas

O mago do tempo
banhou-as com água e sal
e seu bálsamo generoso
transformou o massacre
em suaves lembranças da dor

O mapa do sacrifício
sobre a pele do cordeiro
foi violento e feroz
passou-se o tempo
curou-se a carne lacerada
restou a alma castigada

A chacina sossega as feras
e no repouso passageiro
não mutilam mais a vítima
apenas a observam
pacientes e impiedosas
antes da nova investida 

Se agora exibo e revelo 
estes feios vestígios
de um passado perverso
é para avisar-te do perigo
para que fujas do cativeiro

não quero tua compaixão
pois não me rendi aos leões
desfiguraram-me a pele 
mas não me tiraram a vida

Afaga-me somente
pois ainda me doem as cicatrizes. 

Nenhum comentário: