(Republicação. Texto revisto).
Foto: Andy Warhol, por Richard Avedon
As garras afiadas
do passado
cravaram-se em meu peito
rasgaram-me a pele
abriram-me feridas
por onde escorreram
sangue e lágrimas
O mago do tempo
banhou-as com água e sal
e seu bálsamo generoso
transformou o massacre
em suaves lembranças da dor
O mapa do sacrifício
sobre a pele do cordeiro
foi violento e feroz
passou-se o tempo
curou-se a carne lacerada
restou a alma castigada
A chacina sossega as feras
e no repouso passageiro
não mutilam mais a vítima
apenas a observam
pacientes e impiedosas
antes da nova investida
Se agora exibo e revelo
estes feios vestígios
de um passado perverso
é para avisar-te do perigo
para que fujas do cativeiro
não quero tua compaixão
pois não me rendi aos leões
desfiguraram-me a pele
mas não me tiraram a vida
Afaga-me somente
pois ainda me doem as cicatrizes.
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