Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.
Era ainda uma criança,
em frente à porta trancada do quarto de minha mãe
braços pendentes, ombros arqueados, ouvidos atentos
à espera de qualquer ruído
Da porta para dentro tudo era silêncio
apenas minha mãe e a raiva
Da porta pra fora somente desespero
e a única certeza de que o erro era meu
Naquela altura eu não imaginava
que essa seria somente a primeira porta
de tantas outras que me seriam fechadas
Tinha pavor do silêncio do lado de dentro
e da solidão do lado de fora
O silêncio podia significar a morte
a morte que minha mãe anunciava
ao trancar-se naquela prisão
Muito mais tarde entendi que a prisão
poderia estar em qualquer dos lados
tanto fazia... ela é o lado que pune
e separa os que erram dos que não perdoam
As fábulas nos dizem que palavras abrem portas
então repeti milhares de vezes: "me perdoa", "eu te amo"
e, por fim,"Senhor, me ajuda"...
A criança cresceu, porém a cena se repete:
uma porta trancada, duas mulheres e duas prisões.
Do lado de fora estou eu: braços pendentes,
ombros arqueados e ouvidos atentos
à espera de qualquer ruído.