Há uma porta entreaberta
que range e bate com o vento.
Há essa porta encerrada pelo tempo
entre mim e o mundo.
Veste-me de clausura
e de silêncio me cerca.
Ninguém sabe quem sou.
Jazo num canto
do outro lado da porta.
Folheando minutos
abraço-me à esperança
de passos ou vozes
que nunca me alcançam.
Lá fora, o sol cobre-se de noite.
As sombras me envolvem
enquanto eu sonho com a luz.
Um brilho dourado
me toma num pulo
e me arrastam para longe
os gritos da infância.
Ah, não fosse a fronteira
entre mim e o mundo...
eu seria a liberdade
e não a surdez ou a cegueira.
Mas o sonho se vai
e eu amanheço
A porta range com o vento
e eu envelheço.
Ninguém bate à porta.
Sabem-me morta.