segunda-feira, 19 de março de 2012

Laços


Imagem: Getty Images

Onde está o fio que me ligava a ti?
Sei que no caminho eu o deixei escapar por entre os dedos
E agora... Estás comigo, ainda ao meu lado, mas não te encontro
Tudo o que nos unia: palavras, pensamentos... Perdeu-se.

Por que perdeu-se nosso laço?
Sim, eu sei.
Tu não soltaste o outro lado.
Todos os dias me mostras o nó forte amarrado à tua mão.
Talvez, por isso, nunca parti.

Pessoas são como pipas bailando nos céus
Se não há ninguém a segurar-lhes a linha
O vento as levará para longe
E nessa viagem podem rasgar-se, destruir-se

Algumas pipas caem por descuido
deslaçam-se e perdem o rumo 
Não continuam belas como as que dançam pelo ar
Apagam-se junto com as imagens de sua dança etérea
E delas só ficam lembranças

Incapazes de despertar encantamento ou sorriso
Ficam desbotadas num canto, estáticas, imóveis
Sem a liberdade dos céus e o brilho do sol,
perdendo sua essência e significado

Acredito que fiz isto conosco 
O voo de antes era tão limpo, tão claro...
E hoje sentimos o peso da inércia, da dormência.
Quem és tu, a quem tanto amei?
Onde encontro o fio que me unia a ti?

sábado, 10 de março de 2012

Recém-nascida


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Deve ser assim que se nasce...

Quando, de repente, o aconchego e o calor
são arrebatados, tomados...
Num solavanco, vem a claridade 
e no instante seguinte, o frio, as vozes 
E, então, o mundo vira de cabeça para baixo
despido, com medo, desconhecido...

Deve ser assim...
A sensação de não poder falar
(para quem falar?)
O não compreender
E o choro já brotando pela garganta.

Uma fome dói sem que se saiba direito o que ela é.
Desamparo, deslocamento, solidão...

Quem nasce precisa de proteção e colo,
mas, às vezes, já se nasce órfão.