sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Ninho vazio

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

Acabou-se o nosso tempo
num início de outubro.
Veio-me um frio cortante
e, com ele, a extensão do vazio
transpassou-me o ventre.
Este ventre que um dia foi teu.
E tu, que preencheste minha vida,
agora largas a minha mão.

Que som ocupará o lugar do teu sorriso?
Levaste embora também teu perfume.
Deixaste-me somente ecos do meu coração
e a palavra saudade escrita pelas paredes
junto aos desenhos que outrora me ofertaste.
Nossas conversas e segredos
ficaram-me na lembrança.
E tua ausência hoje me desespera.

Não há volta, nem solução.
Tua vida precisa expandir-se
enquanto a minha definha...

Meu anjo, minha luz,
segue teu caminho
sem preocupar-te comigo.

Meu leito voltou a ser escuro.
Adormeço
sentindo a solidão estender sobre mim
o lençol do silêncio.

domingo, 17 de junho de 2012

Aparências

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


HOJE não me encantam aparências, nem me seduzem promessas
porque de tanto acreditar, um dia aprendi
que os sentidos nos enganam
que cair machuca e cansa... 
Apegos também não os tenho, pois muito apanhei e perdi.
Agora vivo com pouco, e é por este motivo
que minha canção, para alguns, não tem melodia
e é infértil a minha poesia.
Delas não brotam sonhos, nem cores...
Somente alertas germinam
em meio às palavras que deixei.
Não lamento, não reclamo...
Tudo faz parte do caminho, do destino árduo que trilhei.

sábado, 2 de junho de 2012

Vertigem

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

Estou perdendo o prumo
O que me resta?
Já não caminho com firmeza
o solo não me sustenta
Cedo demais chegou o tempo
em que me falham os passos
E fico triste...
Quero andar, mas tudo gira
Não são pedras
que me torturam os pés,
mas nuvens estendidas
pelo chão
Não posso ir mais longe
ver o que há por ali
Não consigo me erguer
sem o medo de cair
e já soma-se a vertigem
às dores e às dúvidas
Tudo hoje me assusta
O mundo derrete-se
e despenca em espiral
o vazio me abraça
e meu corpo flutua no caos.

terça-feira, 1 de maio de 2012

Juízo

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

O perfume da tempestade
bate à porta
abriga-te com cuidado
o martírio não é teu.
Lá fora o perigo
procura o seu dono
relâmpagos ferozes
retalham entranhas
sem piedade.
Setas desorientadas
caem do céu
fincando-se ao solo
como bandeiras
da morte.
Os punhos do vento
açoitam os mares,
a vida solta um grito.
Tudo é frágil
diante da tormenta.
Aquieta-te, pois, e espera.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Sépia

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

Após tantos anos, pelas tramas do destino
Retornei à casa das paredes silenciosas.
Trilhei antigos caminhos, enxergando pegadas conhecidas naquele chão...
E uma porta foi se abrindo, revelando-me o mesmo salão.

Tudo em volta parecia pintado em sépia.
E percebi que poucas mudanças estes anos trouxeram. 
As paredes continuavam iguais: repletas de quadros imaginários
contando uma história de fraqueza e loucura.
Meu museu, meu cemitério.

Quadros que agora falam somente comigo, todos ao mesmo tempo
a me relembrar daqueles dias... trechos empoeirados de mim.
Vozes que hoje nada mais dizem, rostos que o tempo mofou.

Respirei aquele passado, no aposento esquecido.
E mais adiante encontrei os falsos abraços
os sorrisos cansados, perdidos em olhos vazios.

Por horas desfiei minhas lembranças
sem dores, sem sofrimentos
somente com apatia, diante de imagens desfocadas
de um tornado que há muito devastou minha alma.

Hoje, naquele mausoléu de risadas e suspiros, nada mais é real.
Só fantasmas vivem ali, presos para sempre no ontem,
nos retratos desbotados de um pedaço da minha vida.

Nos vidros das janelas do penúltimo andar
ficaram impressas as palmas das minhas mãos
e os sonhos que outrora eu tive,
antes que se perdessem um a um 
carregados pelas asas da desesperança.

Tranco, ao sair, aquelas inúteis maçanetas 
que um dia foram abertas por mãos erradas.
Observo as sombras e digo-lhes adeus definitivamente... 
Ao sair, as paredes respondem: até nunca mais.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Doce


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

Trago dentro do peito
toda a esperança
pra sair cantando
mundo afora,
a plenos pulmões

E agradecer as oportunidades,
e abraçar as pessoas
em meio a tantas paisagens

Como é rica esta vida
e única...
É um pulo do telhado,
um voo livre...
Não vale a pena
desperdiçá-la com lamentos.

E cada dia tem sua surpresa
tem o seu sabor.
E assim vai sendo,
acontecendo...
Até o fim.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Laços


Imagem: Getty Images

Onde está o fio que me ligava a ti?
Sei que no caminho eu o deixei escapar por entre os dedos
E agora... Estás comigo, ainda ao meu lado, mas não te encontro
Tudo o que nos unia: palavras, pensamentos... Perdeu-se.

Por que perdeu-se nosso laço?
Sim, eu sei.
Tu não soltaste o outro lado.
Todos os dias me mostras o nó forte amarrado à tua mão.
Talvez, por isso, nunca parti.

Pessoas são como pipas bailando nos céus
Se não há ninguém a segurar-lhes a linha
O vento as levará para longe
E nessa viagem podem rasgar-se, destruir-se

Algumas pipas caem por descuido
deslaçam-se e perdem o rumo 
Não continuam belas como as que dançam pelo ar
Apagam-se junto com as imagens de sua dança etérea
E delas só ficam lembranças

Incapazes de despertar encantamento ou sorriso
Ficam desbotadas num canto, estáticas, imóveis
Sem a liberdade dos céus e o brilho do sol,
perdendo sua essência e significado

Acredito que fiz isto conosco 
O voo de antes era tão limpo, tão claro...
E hoje sentimos o peso da inércia, da dormência.
Quem és tu, a quem tanto amei?
Onde encontro o fio que me unia a ti?

sábado, 10 de março de 2012

Recém-nascida


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Deve ser assim que se nasce...

Quando, de repente, o aconchego e o calor
são arrebatados, tomados...
Num solavanco, vem a claridade 
e no instante seguinte, o frio, as vozes 
E, então, o mundo vira de cabeça para baixo
despido, com medo, desconhecido...

Deve ser assim...
A sensação de não poder falar
(para quem falar?)
O não compreender
E o choro já brotando pela garganta.

Uma fome dói sem que se saiba direito o que ela é.
Desamparo, deslocamento, solidão...

Quem nasce precisa de proteção e colo,
mas, às vezes, já se nasce órfão.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Ophelia


Benditas águas, que a tudo purificam, levem para longe o que possa ter restado de mim. Águas serenas transformem em bênçãos os dias que virão.

Que todas as tuas gotas possam tornar-se ondas silenciosas, cessando os turbilhões que outrora ameaçavam arrebatar minha terra firme.

Águas claras diluam, dissipem toda a dor, escorram as minhas memórias em fortes tempestades.

Conservem parada a superfície do lago em que me transformei, agora gelado e vazio. Permitam que todas as histórias depositem-se no leito mais turvo e profundo, na parte inóspita do meu mundo.

Águas tranquilas, sejam as únicas testemunhas do sepulcro que minha vida abraçou. Levem com as correntezas os pedaços arrancados do meu peito, as gotas que me ardem nos olhos, o sangue que me amarga a boca e me queima as veias.



Afoguem meu corpo cansado, misturem minha matéria ao sal dos tempos e me envolvam de lírios os cabelos, que agora deixo soltos, misturados às tuas espumas.


Que apenas minha alma flutue, conduzida pelas tuas marés, evaporando-se, por fim, nas nuvens alaranjadas do teu por-do-sol.



domingo, 29 de janeiro de 2012

Canção de embalar

Inércia

Passou-se um ano
Passou-se um mês
A vida me acenou
E eu aqui...
Abro meu livro
ajeito-me ao leito
viajo nas nuvens
que as palavras
me trazem.
E vejo lugares
onde nunca andarei
encontro pessoas
de quem nada sei.
Passou-se um verão
Passou-se a manhã
A vida me sorriu
E eu aqui...
Sentada à mesa
bebendo minha água
esquecendo-me de tudo
que eu ia fazer.
E viajo nas nuvens
que as lembranças
me trazem
e escrevo poemas
que nunca ofertarei.
Passou-se o tempo
Passou-se a razão
A vida me soltou
E eu aqui...
Fecho meus olhos
ajeito-me ao leito
viajo nas nuvens
que as lembranças
me trazem
e espero quieta
pelo último acorde
que esta noite
entonarei.

Canção de embalar

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti

Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor

Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

sábado, 28 de janeiro de 2012

Paraíso



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Que mundo é este tão belo, tão amplo, tão verde? Que mundo é este tão repleto de gente que vem e vai? Que mundo é este, meu Deus, em que me puseste desde cedo a trabalhar, a sofrer e a desfrutar? Que mundo é este, meus caros, que não o quero abandonar?
É um mundo de guerras, mas perfeito para morar.
É um mundo de luzes e sons,
um mundo vasto de andar,
que cabe no calibre do olhar.
O mundo em que vivo,
meu paraíso particular.

sábado, 21 de janeiro de 2012

Resíduos



Então, chore.
Permita-se dar vazão às suas represas.
Quem sufoca um pranto engole copos de areia,
enterra-se por dentro.
Deixe ir embora o desgosto, a saudade, a lembrança;
dê adeus ao desencanto, aos planos que não deram certo;
chore as tristezas, as perdas.
Remova os resíduos que lhe entopem as artérias.
Então, chore.
Um choro silencioso, simples, como só os fortes sabem chorar.
Os fracos preferem bradar sua dor, sem nunca livrarem-se dela.
Não caia na tentação de sentir pena de si.
É tão inútil autopiedar-se...
Remova em cada gota, em cada soluço,
o que lhe é desnecessário.
Cure-se, cuide-se.
E não rotule culpados,
e não transfira amarguras.
Apenas chore.


domingo, 1 de janeiro de 2012

Ameaça


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


A ansiedade é
o fio de uma faca,
o desconforto
de um calafrio.
Quando a mente
não sossega,
antecipando ameaças
e vislumbrando
sinais de perigo.
Não tem porquê,
mas essa sensação
se arrasta
e não passa...

Livro


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Então é isso...
Mais um ano se inicia e hoje é seu primeiro dia.
Apesar da ficção, o ritual tem seus benefícios.
Forçosamente é feito um balanço, uma avaliação do tempo vivido e novos rumos são traçados, ao menos na vontade e no desejo.
As esperanças, por alguns instantes, tomam o lugar do cansaço.
E assim começa um novo ciclo, e novos volumes são acrescentados ao grande livro da vida.
É bom ter força no pulso, no tom das tintas e na virada das páginas!
Que seja um livro ilustrado com belas imagens.
Que tenha romance, drama, muitos personagens.
Que seja uma história não muito breve e com final feliz.