quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sobre o Amor

Este é um blog realmente intimista. Até hoje eu não havia publicado textos de outros autores por aqui, mas hoje vou abrir uma honrosa exceção. Esta linda mensagem da Ana Jácomo é tão verdadeira e adequada para que eu expresse e dedique minha gratidão e amor ao meu companheiro nesta jornada, que gostaria da permissão para publicá-la aqui.
Marcelo, estas palavras são para VOCÊ, que nunca largou minha mão.
Um beijo, meu amor e meu amigo.

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Falamos à beça de amor. Apesar das nossas singularidades, temos pelo menos esse desejo em comum: queremos amar e ser amados. Amados, de preferência, com o requinte da incondicionalidade. Na celebração das nossas conquistas e na constatação dos nossos fracassos. No apogeu do nosso vigor e no tempo do nosso abatimento. No momento da nossa alegria e no alvorecer da nossa dor. Na prática das nossas virtudes e no embaraço das nossas falhas. Mas não é preciso viver muito para percebermos nos nossos gestos e nos alheios que não é assim que costuma acontecer.
Temos facilidade para amar o outro nos seus tempos de harmonia. Quando realiza. Quando progride. Quando sua vida está organizada e seu coração está contente. Quando não há inabilidade alguma na nossa relação. Quando ele não nos desconcerta. Quando não denuncia a nossa própria limitação. A nossa própria confusão. A nossa própria dor. Fácil amar o outro aparentemente pronto. Aparentemente inteiro. Aparentemente estável. Que quando sofre não faz ruído algum.
Fácil amar aqueles que parecem ter criado, ao longo da vida, um tipo de máscara que lhes permite ter a mesma cara quando o time ganha e quando o cachorro morre. Fácil amar quem não demonstra experimentar aqueles sentimentos que parecem politicamente incorretos nos outros, embora costumem ser justificáveis em nós. Fácil amar quando somos ouvidos mais do que nos permitimos ouvir. Fácil amar aqueles que vivem noites terríveis, mas na manhã seguinte se apresentam sem olheiras, a maquiagem perfeita, a barba atualizada.
É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. Nos cafés, após o cinema, quando se pode filosofar sobre o enredo e as personagens com fluência, um bom cappuccino e pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, quando se divide os novos sonhos de consumo, imediato ou futuro. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos encontros erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando até a própria alma parece haver se retirado.
Difícil é amar quando já não encontramos motivos que justifiquem o nosso amor, acostumados que estamos a achar que o amor precisa estar sempre acompanhado de explicação. Difícil amar quando parece existir somente apesar de. Quando a dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que fazer para ajudar. Quando a sombra se revela e a noite se apresenta muito longa. Quando o frio é tão medonho que nem os prazeres mais legítimos oferecem algum calor. Quando ele parece ter desistido principalmente dele próprio.
Difícil é amar quando o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes alimentamos de não demonstrar fragilidade. Quando a exibição das suas dores expõe, de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, afasta as pessoas que acreditam nele. Quando parece que nós também estamos incluídos nesse grupo.
Difícil é amar quem não está se amando. Mas esse talvez seja o tempo em que o outro mais precise se sentir amado. Para entender, basta abrirmos os olhos para dentro e lembrar das fases em que, por mais que quiséssemos, também não conseguíamos nos amar. A empatia pode ser uma grande aliada do amor.
Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial da transformação, no gesto aliado à vontade e, especialmente, no amor que recebemos nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente.

domingo, 16 de outubro de 2011

Melancolia



A vida na Terra seguia naturalmente. O planeta rodopiava em seu eixo, ora iluminado pelo Sol, ora pela Lua. Essa existência tranquila levava a humanidade a pensar que estava segura, que os riscos eram pequenos e que o homem era forte e inteligente o suficiente para enfrentar seus próprios desafios.
A rotina serena, entretanto, não impediu que a humanidade maltratasse seu planeta e começasse a julgar que estava sozinha no universo infinito, passando a buscar diariamente indícios de outras vidas além desta. Muitas vezes desejosa de conhecer outros mundos e de que todos os mistérios do cosmos logo lhes fossem respondidos.
Um dia, um planeta qualquer, vindo não se sabe de que sistema ou galáxia, entrou na trajetória da Terra. De uma imponência considerável, há muito vagava em rota indefinida, colidindo com asteróides ou pequenos astros. Nada parecia detê-lo.
O planeta era frio, desgarrado e veloz em seu rastro de destruição. Misteriosamente, as leis do universo colocaram em perigo a tranquilidade da Terra. O planeta, que já se aproximara a ponto de ser visto a olho nu, não poderia ser detido pelas frágeis mãos humanas.
A quietude da vida, repentinamente, deparou-se com um futuro assustador. Não haveria tempo para que suas perguntas encontrassem respostas, e todo o arsenal bélico construido para sua proteção mostrou-se completamente inútil. Assim acontece, de uma hora para outra, uma grande catástrofe.
Num determinado momento o planeta desconhecido entrou na atmosfera terrestre, sugando-lhe parte do oxigênio, decretando o fim de tudo o que existira até então. A colisão ocorreu.
A Terra desviou-se de seu eixo, irremediavelmente. Desgarrou-se de seu sistema.
Afastada do Sol, sem a proteção de sua atmosfera, suas águas congelaram e a vida pereceu. O que antes era um planeta verde e vivo, tornou-se uma sombra coberta de gelo a vagar pelo universo, sem trajetória, sem luz... Sua superfície destruída, agora apresentava as marcas deixadas pela colisão, contando para sempre a história daquele nefasto encontro.
O planeta estranho, quase incólume, provavelmente continuará a viajar pelo universo, ameaçando tudo o que coincidir com sua rota insana. Não há uma explicação para que isso tenha ocorrido, não há notícias de que naquele planeta exista vida inteligente, não há castigo para a devastação que ele deixa pelo caminho. Não há mão invisível que o detenha.
Simples assim.
Sim... Toda esta estória pode ser uma metáfora. Podemos colidir, em nossa trajetória, com algumas pessoas que nos devastam. 

sábado, 15 de outubro de 2011

Perdão



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Há dias em minha vida que me considero uma idiota
Ajo como uma idiota, falo como tal
Estes dias me custam anos de dor e arrependimento
Ficam a balançar palavras na minha mente
A mostrar o pior de mim em frente ao espelho
Não me perdoo por ser tão fraca
Por ser uma pessoa malvada e impaciente
Como faço para apagar as pegadas desses dias?
É possível calar fantasmas que vomitam o que eu disse?
Perdão!
Perdão!
Perdão!
Um perdão que brote dentro de mim
Apesar de todos os meus defeitos.
É só do que preciso para acordar amanhã.