sábado, 26 de fevereiro de 2011

Muro


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


De repente não ouço mais...
E o não ouvir
traz consigo o não saber.
Passo o tempo com o que me sobra,
a adivinhar e a sonhar.
Construo frases e situações
que não me acontecerão mais
e misturo-as com lembranças
meio assopradas pela mente,
como dentes-de-leão soltos pelo ar.
Sorvo do fundo deste cálice
uma gota de alívio
para esta irreversível distância
que anda sempre comigo.
Há momentos como os de hoje,
em que quase consigo materializar
o que não vivi
e tentar saber como teria sido.
Abro os olhos e o muro está lá.
Sento-me no chão, sozinha.
Vejo luzes que cruzam o céu...
Elas vão para algum lugar...
Eu não.
E recostada ao muro,
conformo-me com a solidão.