domingo, 23 de janeiro de 2011

Ampulheta


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Falarei sobre a menina que, durante a noite, abria as janelas de seu quarto para olhar o céu.
Em meio ao contorno escuro da copa das árvores, enxergava a lona tingida de negro que envolve a Terra. Nela havia vários pontos de luz; um bordado celestial. E era essa imagem que prendia o olhar da menina por um longo tempo, até que seu sono chegava.
Com o sono, vinham-lhe imagens oníricas de estrelas cadentes, de naves que pairavam em frente à sua janela, convidando-a a viajar pelo espaço e pelo tempo.
Muitas vezes o medo a acordava, embora tais sonhos lhe trouxessem um fascínio pelo desconhecido. E assim, ela acostumou-se a fazer suas secretas e solitárias viagens.
Passou a ouvir com atenção os ruídos escondidos na noite e a tentar decifrar-lhes as mensagens.
Durante o dia, fechava os olhos e abusava do seu direito de tecer fantasias.
Assim, construiu uma ponte imaginária que a levava à esperança de que algo incrível pudesse acontecer-lhe um dia. 
Mas os dias foram se passando, e no quarto da menina não couberam mais tantos sonhos. 
E a menina cresceu. Estudou e trabalhou. Mudou-se e deixou seu quarto para trás.
Os sonhos? Ficaram por lá.
Nunca mais voltou aos lugares fantásticos que visitou.
Ainda hoje ela observa as estrelas através da sacada de seu apartamento. Porém, elas não parecem mais tão brilhantes... Estão meio encobertas pelas luzes da cidade e pelas lágrimas que escorrem com insistência de seus olhos cansados.
Não consegue mais sonhar acordada, não acredita em naves peregrinas. Só consegue enxergar uma grande ampulheta desenhada no firmamento, com grãos luminosos que parecem cair muito rapidamente.
Talvez seja essa a nave que um dia virá buscá-la.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Instante


De quanto tempo
é feito o instante
em que o agora já não é mais
o que me acomoda?
Temo o instante seguinte
que me aguarda
com o que desconheço.
Nele tudo se abriga...
O degrau ou o declive.
Nele incertezas se escondem.
Nesse (in)exato momento
as possibilidades se multiplicam como fogos de artifício num céu escuro.
Não, não me encanto pelo que não sei,
nem por esse futuro que me espreita.
O instante seguinte pode ser o nada, o fim.
Por isso, volto meu olhar para o conforto do passado, o ninho quente das memórias.
No futuro, quem sabe quantas partes de mim
ainda perderei?


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.