domingo, 27 de novembro de 2011

Amanhã


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Deve ser amanhã...
Como devo me portar?
O que devo esperar?
Deve ser amanhã...
Devo me preparar
para o que devo fazer
Deve ser amanhã,
O dia mais longo.
Mas quando tudo passar,
devo me deitar
com o dever cumprido.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Distâncias



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


As paredes da distância
foram erguidas uma a uma
A distância da palavra
A distância do saber
Muros altos e silenciosos
selados com a saudade
Foram tantas lutas solitárias
Para criar os labirintos
da distância
A distância de um passo
A distância do abraço
A distância do sorriso
Foi tanto esforço
Para cortar a linha
Para sumir do mapa
A distância de um olhar
A distância do afago
A distância do perigo
E naquele esconderijo
Guardaram-se lembranças
Encerraram-se sonhos
Calaram-se dores
Em meio a essas distâncias
Parecia brotar a paz
Um sossego que agora
Começa a descer morro abaixo
Basta um ato, um toque
E num simples minuto
A distância se desfaz
As barreiras se desfiam
nas mãos dos que conhecem
as chaves e os segredos
Restando apenas
a distância de um beijo
Fraca barreira
Para os que nela se amparam
Basta um ato, um toque
Para que almas se aproximem
e tragam com elas seus sonhos
Pobres amores marcados
pela desesperança,
pelo cruel destino
que lhes nega caminho
e oferece como alternativa
a reconstrução de novas distâncias.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sobre o Amor

Este é um blog realmente intimista. Até hoje eu não havia publicado textos de outros autores por aqui, mas hoje vou abrir uma honrosa exceção. Esta linda mensagem da Ana Jácomo é tão verdadeira e adequada para que eu expresse e dedique minha gratidão e amor ao meu companheiro nesta jornada, que gostaria da permissão para publicá-la aqui.
Marcelo, estas palavras são para VOCÊ, que nunca largou minha mão.
Um beijo, meu amor e meu amigo.

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Falamos à beça de amor. Apesar das nossas singularidades, temos pelo menos esse desejo em comum: queremos amar e ser amados. Amados, de preferência, com o requinte da incondicionalidade. Na celebração das nossas conquistas e na constatação dos nossos fracassos. No apogeu do nosso vigor e no tempo do nosso abatimento. No momento da nossa alegria e no alvorecer da nossa dor. Na prática das nossas virtudes e no embaraço das nossas falhas. Mas não é preciso viver muito para percebermos nos nossos gestos e nos alheios que não é assim que costuma acontecer.
Temos facilidade para amar o outro nos seus tempos de harmonia. Quando realiza. Quando progride. Quando sua vida está organizada e seu coração está contente. Quando não há inabilidade alguma na nossa relação. Quando ele não nos desconcerta. Quando não denuncia a nossa própria limitação. A nossa própria confusão. A nossa própria dor. Fácil amar o outro aparentemente pronto. Aparentemente inteiro. Aparentemente estável. Que quando sofre não faz ruído algum.
Fácil amar aqueles que parecem ter criado, ao longo da vida, um tipo de máscara que lhes permite ter a mesma cara quando o time ganha e quando o cachorro morre. Fácil amar quem não demonstra experimentar aqueles sentimentos que parecem politicamente incorretos nos outros, embora costumem ser justificáveis em nós. Fácil amar quando somos ouvidos mais do que nos permitimos ouvir. Fácil amar aqueles que vivem noites terríveis, mas na manhã seguinte se apresentam sem olheiras, a maquiagem perfeita, a barba atualizada.
É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. Nos cafés, após o cinema, quando se pode filosofar sobre o enredo e as personagens com fluência, um bom cappuccino e pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, quando se divide os novos sonhos de consumo, imediato ou futuro. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos encontros erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando até a própria alma parece haver se retirado.
Difícil é amar quando já não encontramos motivos que justifiquem o nosso amor, acostumados que estamos a achar que o amor precisa estar sempre acompanhado de explicação. Difícil amar quando parece existir somente apesar de. Quando a dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que fazer para ajudar. Quando a sombra se revela e a noite se apresenta muito longa. Quando o frio é tão medonho que nem os prazeres mais legítimos oferecem algum calor. Quando ele parece ter desistido principalmente dele próprio.
Difícil é amar quando o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes alimentamos de não demonstrar fragilidade. Quando a exibição das suas dores expõe, de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, afasta as pessoas que acreditam nele. Quando parece que nós também estamos incluídos nesse grupo.
Difícil é amar quem não está se amando. Mas esse talvez seja o tempo em que o outro mais precise se sentir amado. Para entender, basta abrirmos os olhos para dentro e lembrar das fases em que, por mais que quiséssemos, também não conseguíamos nos amar. A empatia pode ser uma grande aliada do amor.
Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial da transformação, no gesto aliado à vontade e, especialmente, no amor que recebemos nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente.

domingo, 16 de outubro de 2011

Melancolia



A vida na Terra seguia naturalmente. O planeta rodopiava em seu eixo, ora iluminado pelo Sol, ora pela Lua. Essa existência tranquila levava a humanidade a pensar que estava segura, que os riscos eram pequenos e que o homem era forte e inteligente o suficiente para enfrentar seus próprios desafios.
A rotina serena, entretanto, não impediu que a humanidade maltratasse seu planeta e começasse a julgar que estava sozinha no universo infinito, passando a buscar diariamente indícios de outras vidas além desta. Muitas vezes desejosa de conhecer outros mundos e de que todos os mistérios do cosmos logo lhes fossem respondidos.
Um dia, um planeta qualquer, vindo não se sabe de que sistema ou galáxia, entrou na trajetória da Terra. De uma imponência considerável, há muito vagava em rota indefinida, colidindo com asteróides ou pequenos astros. Nada parecia detê-lo.
O planeta era frio, desgarrado e veloz em seu rastro de destruição. Misteriosamente, as leis do universo colocaram em perigo a tranquilidade da Terra. O planeta, que já se aproximara a ponto de ser visto a olho nu, não poderia ser detido pelas frágeis mãos humanas.
A quietude da vida, repentinamente, deparou-se com um futuro assustador. Não haveria tempo para que suas perguntas encontrassem respostas, e todo o arsenal bélico construido para sua proteção mostrou-se completamente inútil. Assim acontece, de uma hora para outra, uma grande catástrofe.
Num determinado momento o planeta desconhecido entrou na atmosfera terrestre, sugando-lhe parte do oxigênio, decretando o fim de tudo o que existira até então. A colisão ocorreu.
A Terra desviou-se de seu eixo, irremediavelmente. Desgarrou-se de seu sistema.
Afastada do Sol, sem a proteção de sua atmosfera, suas águas congelaram e a vida pereceu. O que antes era um planeta verde e vivo, tornou-se uma sombra coberta de gelo a vagar pelo universo, sem trajetória, sem luz... Sua superfície destruída, agora apresentava as marcas deixadas pela colisão, contando para sempre a história daquele nefasto encontro.
O planeta estranho, quase incólume, provavelmente continuará a viajar pelo universo, ameaçando tudo o que coincidir com sua rota insana. Não há uma explicação para que isso tenha ocorrido, não há notícias de que naquele planeta exista vida inteligente, não há castigo para a devastação que ele deixa pelo caminho. Não há mão invisível que o detenha.
Simples assim.
Sim... Toda esta estória pode ser uma metáfora. Podemos colidir, em nossa trajetória, com algumas pessoas que nos devastam. 

sábado, 15 de outubro de 2011

Perdão



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Há dias em minha vida que me considero uma idiota
Ajo como uma idiota, falo como tal
Estes dias me custam anos de dor e arrependimento
Ficam a balançar palavras na minha mente
A mostrar o pior de mim em frente ao espelho
Não me perdoo por ser tão fraca
Por ser uma pessoa malvada e impaciente
Como faço para apagar as pegadas desses dias?
É possível calar fantasmas que vomitam o que eu disse?
Perdão!
Perdão!
Perdão!
Um perdão que brote dentro de mim
Apesar de todos os meus defeitos.
É só do que preciso para acordar amanhã.

domingo, 15 de maio de 2011

Reflexos


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Já vou. Estou bem.
Faço-te um pedido: Que adormeçam em ti
meus segredos, tudo o que fui
e o que tentei ser.
Para onde vou nada levo, de nada preciso.
Aguardo-te nesse lugar, assim que lá chegar.
Ficam, por ora, as lembranças de ontem
e de hoje.
Um beijo. Até mais.
A vida sempre nos leva de volta pra casa,
seja ela qual for.
Até os dias que virão, numa das tardes de verão.
Estou livre e partindo, sem mais urgências,
sem mais desesperos.
Penso no tempo, nas horas de espera,
nas palavras de abandono e
na maioria dos sonhos
perdidos na poeira...
Nas asas do amor só restei eu
e alguns reflexos de ti.

domingo, 24 de abril de 2011

Repouso



Agora que tudo passou
e eu passei,
deixo-te a luz.
Leva-a contigo, no centro do peito
para que te aqueça durante as noites.

Agora que tudo se foi
e eu me misturei a tudo,
vejo quanto quis fracionar teu amor.
Desculpa-me o egoismo,
queria-te somente para mim.
Sei agora que a ordem divina
não permite tais distinções.

Agora que nada sinto,
pois nada sou,
vejo o quanto a vaidade me corrompeu.
Envergonho-me do que fiz e disse.
Perdoa-me!

Agora estou em repouso
um repouso necessário
para um retorno melhor.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Farsa



Pessoa exata
De exatas palavras
E exatos pensares
De discursos sensatos
e sensatas escolhas
Pessoa ilibada
de passos prudentes
diálogos estudados
e vitoriosas atitudes
Te elogiam na rua
Te endeusam em casa
Pessoa talhada
de iniciativas corretas
escrita impecável
e coerentes agires
Ah... Pessoa querida
tenho pena de ti
se soubessem quem és
e a verdadeira dimensão
da tua covardia...
Pobre pessoa tingida
construtora de templos
e exemplos
Pobre pessoa sozinha
cuja maestria da vida
não acrescentou ousadia
Escolheste ser obra de arte
Admirada por todos
Escrava da imagem
De longe, perfeita
De perto, rachada

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Aos que amam



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Amar torna os corações maiores
para que todo o amor do mundo caiba ali
Mas quando o sentimento se esvai
aquele lugar vira um grande vazio
que, por falta de experiência ou cuidado
pode encher-se de dor
E por ter ficado tão grande o coração
parece abrigar as infinitas dores do tudo
É preciso então que se esgotem
as razões do sofrimento num luto solitário
e drenem-se todas as lágrimas
pingo a pingo
para que esse imenso cômodo
volte um dia a ficar vazio
translúcido como cristal
e seja preenchido com algo novo

Todos faremos isto algumas vezes na vida
e nenhuma delas será igual às outras.

sábado, 2 de abril de 2011

Non troppo


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Ser infeliz não é uma escolha
Talvez seja uma consequência
mas nunca uma opção de vida.
Ser feliz, para alguns, é exercício
é ponto de vista, é filosofia de vida.
Acho bacana ver pessoas felizes.
O problema é justamente esta
dualidade limitante:
Será que só existem os felizes
e os infelizes?
E quando não se é uma coisa nem outra?
Como definir pessoas que apenas
vivem numa espécie de felicidade imperfeita?

Sóis não tão brilhantes
Céus nem sempre azuis
Lares não muito doces...

terça-feira, 29 de março de 2011

Raiz



Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Algumas coisas parecem nascer mortas.
Insistimos nelas teimosamente,
buscamos reações onde não existem,
queremos dar-lhes vida, sopro
e ânimo, mas nada nelas nos responde.
Todas as tentativas se esgotam
nos mesmos resultados vazios...
É perda de tempo investir em erros,
enganos, mentiras e vaidades.
Qualquer situação que resulte
deles, estará com os dias
fatalmente contados.
A felicidade necessita de raízes
nutridas com substâncias mais nobres.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Fim


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


O fim deveria ser normal
já que tudo neste mundo é passageiro.
Mas este momento sempre assusta.
Há um fim para absolutamente tudo
e, a cada vez que ele acontece
a dor e o vazio inexplicavelmente
nos pegam pelas mãos.
Talvez porque o fim liberta e modifica,
embora nem sempre queiramos
liberdade e mudanças.
Porém, o fim tem vontade própria
e com ele não se negocia.
Ele chega na hora que quer,
mesmo não parecendo a hora certa.
Sonhos terminam
Medos passam
Amores acabam
Pessoas desaparecem
Ao encontro do fim caminhamos
desde o nosso primeiro passo.
Por que não aceitá-lo, então?
O fim é nosso recanto
e nosso ventre final.
A outra ponta da fita.
A outra margem do rio.
A saída do túnel.
A entrada do casulo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Abrigo





Será mesmo necessário concluir tudo o que se inicia?
E quando palavras que deveriam ter sido ditas
nunca cruzaram a garganta?
E se os passos que deveriam trilhar pequenas distâncias
se intimidaram em meio ao trançado de pernas indecisas?

Nada pode alterar o passado
ou mudar o que foi deixado para depois.
A vida caminha e passa por cima
de tudo o que não foi feito,
não foi dito ou não foi decidido.
Cada dia com suas próprias oportunidades,
com suas chances e tentativas
de se pronunciar boas palavras,
de se encontrar desfechos melhores,
de se avançar nas direções desconhecidas.

A cada dia se soma um pouco de coragem
para continuar acreditando na vida,
apesar dos sussurros de velhos fantasmas.
Temer os desafios e os erros é bobagem,
pois eles fazem parte do processo.
É tudo tão óbvio que dá até dó...

E enquanto o hoje acontece
é mais simples continuar imóvel,
se escondendo, se negando a mudar
as cláusulas de um contrato
assinado há tempos com o destino.
Um destino que nada mais é
do que o resultado das escolhas,
até mesmo as preteridas.

sábado, 12 de março de 2011

Jardim esquecido


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Quando me distraio e afirmo: "o amor não existe"
lembro-me das batidas fortes
que antigamente brincavam com meu coração.
A vida passava por dentro dele, ocupando
os espaços, preenchendo meus dias
e transformando o mundo num imenso jardim.
E se hoje me questiono sobre a felicidade,
volto no tempo, num sorriso de moça
que se desenhava nestes lábios tão secos
e quase consigo escutar o som de fortes
gargalhadas nascidas de motivos banais.
Certamente o amor e a felicidade existem
e creio que habitam os corações e lábios dos jovens
para um tempo depois a vida levá-los embora,
nas asas de uma borboleta.
Hoje, já esgotadas as esperanças
e depois de tantas dores
é preciso que eu me esforce
para lembrar que ambos cruzaram meu caminho...

quinta-feira, 10 de março de 2011

Incompleta


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

Quero ir dormir agora
e amanhã acordar diferente
uma outra pessoa
desconstruída
como papel picado
nas mãos de uma criança.
E nessa bagunça
todas as minhas peças
serão jogadas ao chão
reviradas, misturadas, quebradas
para depois juntar cores, pedaços
remontar os bloquinhos
e ir encaixando novas peças
fazendo tudo ficar diferente.
Quem sabe um efeito moderno?
Um design mais leve?
Quero ficar irreconhecível.
Quem sabe mudo as cores
ou os formatos...
Quem sabe as peças menores
ganhem espaços mais altos
e as maiores sirvam de alicerce...
Pode ser que me faltem alguns pares
ou que o quebra-cabeça fique incompleto
para sempre...
Pode ser que surjam espaços vazios
preenchidos somente pela luz.
Mas é exatamente isso que quero:
Que não reste nada,
absolutamente nada
da figura que sou hoje.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Muro


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


De repente não ouço mais...
E o não ouvir
traz consigo o não saber.
Passo o tempo com o que me sobra,
a adivinhar e a sonhar.
Construo frases e situações
que não me acontecerão mais
e misturo-as com lembranças
meio assopradas pela mente,
como dentes-de-leão soltos pelo ar.
Sorvo do fundo deste cálice
uma gota de alívio
para esta irreversível distância
que anda sempre comigo.
Há momentos como os de hoje,
em que quase consigo materializar
o que não vivi
e tentar saber como teria sido.
Abro os olhos e o muro está lá.
Sento-me no chão, sozinha.
Vejo luzes que cruzam o céu...
Elas vão para algum lugar...
Eu não.
E recostada ao muro,
conformo-me com a solidão.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ampulheta


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Falarei sobre a menina que, durante a noite, abria as janelas de seu quarto para olhar o céu.
Em meio ao contorno escuro da copa das árvores, enxergava a lona tingida de negro que envolve a Terra. Nela havia vários pontos de luz; um bordado celestial. E era essa imagem que prendia o olhar da menina por um longo tempo, até que seu sono chegava.
Com o sono, vinham-lhe imagens oníricas de estrelas cadentes, de naves que pairavam em frente à sua janela, convidando-a a viajar pelo espaço e pelo tempo.
Muitas vezes o medo a acordava, embora tais sonhos lhe trouxessem um fascínio pelo desconhecido. E assim, ela acostumou-se a fazer suas secretas e solitárias viagens.
Passou a ouvir com atenção os ruídos escondidos na noite e a tentar decifrar-lhes as mensagens.
Durante o dia, fechava os olhos e abusava do seu direito de tecer fantasias.
Assim, construiu uma ponte imaginária que a levava à esperança de que algo incrível pudesse acontecer-lhe um dia. 
Mas os dias foram se passando, e no quarto da menina não couberam mais tantos sonhos. 
E a menina cresceu. Estudou e trabalhou. Mudou-se e deixou seu quarto para trás.
Os sonhos? Ficaram por lá.
Nunca mais voltou aos lugares fantásticos que visitou.
Ainda hoje ela observa as estrelas através da sacada de seu apartamento. Porém, elas não parecem mais tão brilhantes... Estão meio encobertas pelas luzes da cidade e pelas lágrimas que escorrem com insistência de seus olhos cansados.
Não consegue mais sonhar acordada, não acredita em naves peregrinas. Só consegue enxergar uma grande ampulheta desenhada no firmamento, com grãos luminosos que parecem cair muito rapidamente.
Talvez seja essa a nave que um dia virá buscá-la.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Instante


De quanto tempo
é feito o instante
em que o agora já não é mais
o que me acomoda?
Temo o instante seguinte
que me aguarda
com o que desconheço.
Nele tudo se abriga...
O degrau ou o declive.
Nele incertezas se escondem.
Nesse (in)exato momento
as possibilidades se multiplicam como fogos de artifício num céu escuro.
Não, não me encanto pelo que não sei,
nem por esse futuro que me espreita.
O instante seguinte pode ser o nada, o fim.
Por isso, volto meu olhar para o conforto do passado, o ninho quente das memórias.
No futuro, quem sabe quantas partes de mim
ainda perderei?


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.