quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Lembranças




Haverá um dia para relembrar... E o coração baterá novamente com a mesma intensidade.
Mas serão lembranças apenas.
Tais como os dias marcados por lágrimas e palavras empoeiradas de tempos atrás.
Lembranças apenas.
Chegará a hora de parar de sofrer e procurar um porquê para tudo.
As respostas poderão ser encontradas, mas talvez já não sirvam para nada, e os motivos de velhas angústias parecerão sem importância.
Pode ser que, de repente, tudo se revele ilógico ou uma vaga ilusão, uma brincadeira da memória cansada que não distingue a realidade e os sonhos.
Um dia os olhos se fecharão e o corpo se deixará tragar pelo balanço do vento.
Assim se encerrará uma história, se calarão todas as vozes...
Nesse dia as lembranças que pulsam e incomodam
se dissolverão como sal diluído em água.

sábado, 16 de outubro de 2010

Aos que fogem...


Fugir não é o mesmo que retirar-se.
Se não há perigo ou ameaça iminente, fugir pode indicar fraqueza.
Retirar-se na hora adequada, ao contrário da fuga, é demonstração de equilíbrio.
Há o momento certo para ambos.
Ao fugir, abandonamos o que nos ameaça.
Ao nos retirarmos, impedimos o seu avanço.
Fácil perceber que um fugitivo nunca alcança sua liberdade.
O que se retira a preserva consigo.

Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

domingo, 10 de outubro de 2010

Tempestade

Créditos de Imagem: Glimboo

A água desprende-se em fios. Fria, intensa, perfurante.
Cai num cadenciado ruído que acalma e assusta.
Escorre sobre meu corpo em transparentes desenhos
e cai ao chão, onde se espalha e muda de forma.
Os pingos viram poças, espelhos que me refletem
nas escuridões e clarões da noite.
Enfio meus pés nestes reflexos que contam velhas histórias,
respingando frações de mim nas calçadas sujas da rua.
Eu continuo o caminho.
O céu inteiro troveja, ensopa minhas roupas de saudade.
Mas a chuva é passageira e vem de longe, não de mim.
A enchente de agora, que me desespera e afoga,
amanhã se escoa no solo...
Um dia novo me aquece.
Quem sabe o sol me afaga?

sábado, 9 de outubro de 2010

Pontos de Cruz


No linho branco de nossas fronhas
faço arte e teço sonhos.
Com agulha e linha bordo flores
em volta da letra de teu nome.
Espalho cores salpicadas
como beijos na face amada.
É bom dormir nestes bordados
que desenho com tanto cuidado.
Vejo-te em meio a borboletas
e imagino tua alma e a minha
juntinhas em pontos de cruz.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nina


Dorme sossegada filha querida
Sonha com o futuro que te espera
Não temas o caminho nem a dor
Aprende com as quedas que vierem
Mas não deixa nunca de caminhar
Mantém o olhar no horizonte
Segue sempre para lá
Dorme tranquila filha querida
Muitas guerras hão de vir
Mas a cada uma vencerás
Não aceita as injustiças
E não nega a ninguém o teu perdão
Aprende a arte de silenciar
Mas não te percas na multidão
Dorme sem receio filha querida
Hoje aqui estou a velar por ti
A colocar-te em meus braços
E a proteger-te dos ruidos
E perigos que a noite traz
Ah se eu pudesse parar o tempo
Para que nunca saísses daqui
Dorme em paz filha querida
Tens tanto trabalho a fazer
Descansa em meus braços agora
Deixa que o dia amanheça
Trazendo-te o mundo a percorrer
Enobrece esta luta que é viver
Com filhos teus que hão de nascer