domingo, 27 de janeiro de 2008

Concreto

Foto: Angels - de Reza Razimifami

Ainda que o amor os assuste, não irá amordaçá-los.
Não irá traí-los ou cegá-los.
Se não supre, se não sacia, se não preenche as expectativas
lamentará simplesmente, a oferta rejeitada.
Ainda que o amor ultrapasse os limites, não os impedirá
de irem aonde puderem, aonde quiserem.
Se os invade, se rompe contratos, se remexe águas paradas
sofrerá apenas, pelo tempo não aproveitado e não sabido.
Ainda que o amor nada peça ou espere, não será imortalizado
Um dia ele se extinguirá... e então a dor parecerá imensa.

Se a possibilidade do amor os dilacera, os faz sangrar
e se escolherem não mostrá-lo,
esqueçam-no.
Mas nunca o ocultem ou o ignorem.

Digam honestamente ao outro:
"Não te amo. Segue em frente."

Não ser amado é uma grande lição.
É abraçar-se apenas ao amor sentido...
É esquecer sonhos que fagulham pelo ar...

Se as palavras de amor que lhes foram ditas
e as mãos calorosas que lhes foram estendidas
não selaram o convite e não fizeram sentido,
é porque no peito
os escudos do medo calaram mais fundo.

E optaram por continuar desconhecendo o que seria único...
O que seria a felicidade, quando tudo o que havia era a incerteza...
O que seria a tentativa, quando tudo o que havia era a acomodação...
O que seria coragem, quando as asas do destino lhes apontava o caminho.

As vozes ignoradas lhes diziam...
Não querem mesmo ir além?
Não podem mesmo tentar?
O futuro é tão incerto quanto o que seus olhos vêem toda manhã?

E o universo imprimiu um lamento.

Eram como anjos de concreto frente a um inexplorado céu.
Duras bases imaginárias os prendiam ao chão.
Sonharam com o vôo, mas nenhum movimento fizeram.
E dormiram em paz, sob um amplo céu vazio.