domingo, 30 de novembro de 2008

Inverno


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Caíam flocos ao chão. O ar pesado parecia decorado por flutuantes pontos brancos. Da janela via-se a paisagem em tons de cinza e o frio silêncio de uma solidão quase materializada.

Do lado de dentro da janela havia alguém, cujos olhos também eram de um inverno cortante. Naquele cômodo era possível ouvir apenas o ar quente que lhe saía dos pulmões e as batidas cadenciadas de um coração que ainda aguardava os dias seguintes.

Havia esperanças de que, em breve, o inverno de seu mundo acabasse. Mesmo que os últimos anos lhe tivessem negado a luz do sol, suas persistentes lembranças eram de alegres verões, de coloridas primaveras.

Sentia saudades de vozes que poderiam ter lhe dito as mais bonitas palavras. Sonhava com o barulho de passos à soleira da porta e uma chave girando naquela velha fechadura. Com o corpo confortavelmente repousado na poltrona, sentia o gosto amargo do nada... Aquele que somente os solitários reconhecem com precisão.

Ao sorver mais um gole de vinho, Blossom Deary docemente sussurrou-lhe I Wish You Love. Seu olhar parou por um segundo numa antiga fotografia do que antes era a felicidade e agora representava o inatingível. Uma imagem de um breve momento vivido, emoldurando sorrisos perpetuados num tempo também congelado.

As únicas certezas que tinha, agora, eram de que o frio persistiria um pouco mais e de que seu mundo mergulharia no último outono antes que o futuro improvável lhe trouxesse o dono da única chave que abriria aquela velha porta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

... Flores ...

... Flores morrem ...




Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

domingo, 9 de novembro de 2008

Saudade

Saudade é dor que não se cala, é pensamento que não sossega, é necessidade de voltar, rever, reverter, consertar, é perda que não tem cura nem tamanho.
Saudade só entende quem sente.
É falta permanente.
É ausência não consentida, é palavra que grita no peito, sozinha, e ninguém escuta...
Saudade... Saudade... Saudade.
É não ter mais um abraço, uma voz, um sorriso...
É saber que alguém partiu, pra nunca mais voltar, para longe do saber e do olhar...
Sofrer e não poder acompanhar, não poder segurar, nem pedir pra ficar.
Saudade é guardar um adeus no pensamento... E ter no coração um amor para aguardar, quem sabe, uma outra hora, uma outra oportunidade, um outro lugar.

(...04 NOV 2008. Eu te amava tanto...)

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Tudo...

Olhei os céus
e não soube pedir
pensei amar
mas só me feri
Tentei falar
e apenas agredi
Quis morrer
mas renasci


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.
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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Adeus...


Foto: Acervo Getty Images



Caiu o peso, foi-se a força.
Com ele a vaidade
desabou no chão.
Toda a fúria, toda a história.
A mão firme
tremeu sozinha
A voz não se ouviu, o ar não supriu.
Memórias flutuaram p
or todos os lados.
Os olhos da alma procuraram o nada
... ou o tudo
A vida se escoou em cada segundo.
O cansaço, a agonia, o silêncio
de um rosto que sumia
em meio a dor e a vontade de lutar.

Uma lágrima escorreu perdida...
Levou da mente lembranças,
deixou a perplexidade na face
e nos olhos de todos


Seria a hora?

Nos abandonarias.
Partiste.
Foste sozinho para tua nova jornada
Deixaste-nos o vazio dessa louca ilusão
que é viver.

Para Heitor.
30-AGO-1954/12-SET-2008

domingo, 27 de janeiro de 2008

Concreto

Foto: Angels - de Reza Razimifami

Ainda que o amor os assuste, não irá amordaçá-los.
Não irá traí-los ou cegá-los.
Se não supre, se não sacia, se não preenche as expectativas
lamentará simplesmente, a oferta rejeitada.
Ainda que o amor ultrapasse os limites, não os impedirá
de irem aonde puderem, aonde quiserem.
Se os invade, se rompe contratos, se remexe águas paradas
sofrerá apenas, pelo tempo não aproveitado e não sabido.
Ainda que o amor nada peça ou espere, não será imortalizado
Um dia ele se extinguirá... e então a dor parecerá imensa.

Se a possibilidade do amor os dilacera, os faz sangrar
e se escolherem não mostrá-lo,
esqueçam-no.
Mas nunca o ocultem ou o ignorem.

Digam honestamente ao outro:
"Não te amo. Segue em frente."

Não ser amado é uma grande lição.
É abraçar-se apenas ao amor sentido...
É esquecer sonhos que fagulham pelo ar...

Se as palavras de amor que lhes foram ditas
e as mãos calorosas que lhes foram estendidas
não selaram o convite e não fizeram sentido,
é porque no peito
os escudos do medo calaram mais fundo.

E optaram por continuar desconhecendo o que seria único...
O que seria a felicidade, quando tudo o que havia era a incerteza...
O que seria a tentativa, quando tudo o que havia era a acomodação...
O que seria coragem, quando as asas do destino lhes apontava o caminho.

As vozes ignoradas lhes diziam...
Não querem mesmo ir além?
Não podem mesmo tentar?
O futuro é tão incerto quanto o que seus olhos vêem toda manhã?

E o universo imprimiu um lamento.

Eram como anjos de concreto frente a um inexplorado céu.
Duras bases imaginárias os prendiam ao chão.
Sonharam com o vôo, mas nenhum movimento fizeram.
E dormiram em paz, sob um amplo céu vazio.