domingo, 18 de setembro de 2005

Alegria, alegria...


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.

O suor me escorre pelo rosto borrando a maquiagem.
Sento-me na calçada, tiro os sapatos.
Olho meus pés feridos e minha fantasia rasgada...

Devem foliões se envergonhar da alegria que sentiram?
Se for breve, mas intensa, que mais lhes interessa?

A avenida colorida
e os sonhos espalhados
em confetes pelo chão
misturam-se às batidas
de um pobre coração

Minha apoteose acabou
Mas o samba eu decorei
E a fantasia eu mostrei
Com orgulho e com amor

Da minha paixão
só eu sei
e com ela sonharei
nos dias que virão

Volto pra casa agora
Amanhã volto pra vida
Fica em mim a lembrança
das cores da avenida.

domingo, 11 de setembro de 2005

Sagrado

Empunho a espada com o mesmo vigor de sempre. Posto-me em frente à porta sem piscar os olhos.
Sou atenta ao que guardo. Há dias em que a fome me perturba e o corpo pede alento, mas a missão é maior que a minha vida.
Se eu fracassar, me pergunto, de que valerá a minha vida?
Por isso, cá estou. Atenta. A postos.
Atrás de mim está tudo o que mais prezo. Todos os mais ricos tesouros. Alguns cobiçados até por quem deles não precisa. Digo, não precisa deles tanto quanto eu. Não estão à venda e nem os exponho a ninguém.
Eles têm dono. Um único dono.
Muitos já vieram me enfrentar. Já fui atacada durante dias e madrugadas, porém eu sabia que viriam.
Eu estava preparara.
Mesmo assim sangrei com os golpes profundos que me atingiram.
Meu sofrimento é contínuo, é solitário, mas resisto... E o meu templo sagrado permanece intacto, resguardado do mundo.
Quero que ele assim se mantenha, pelo tempo que for preciso, pelo tempo que minhas forças suportarem, aguardando o dia em que o dono, o único dono, decida voltar.

segunda-feira, 5 de setembro de 2005

Setembro

Setembro chegou. Bateu-me à porta trazendo-me sorrisos e flores em tons lilás.
Vejo em minha frente estradas de tijolos onde antes só havia pântanos... E pontes mágicas a deitarem-se sobre velhos abismos. Há promessas sussurradas pelo vento e poemas escritos nas folhas que caem pelo chão.
Calço meus sapatos, com a mesma pressa dos que fogem deixando monstros atrás de si.
Mais uns instantes e o sol voltará a aquecer este corpo que padece da desesperança, do frenesi dos sonhos arrebatadores e da solidão perversa ao amanhecer.
Abandono com prazer minhas paredes úmidas e escuras e volto a caminhar, a procurar por minhas borboletas azuis.

quinta-feira, 1 de setembro de 2005

Cinza

Tento descansar agora. Retiro-me do meio do mundo em busca do nada. Procuro o não saber, a inexistência de vestígios, a ausência do que vi. Quero a falta de tato, o oco das minhas paredes rachadas. Quero renascer com mãos vazias e pés descalços; ter na pele apenas a bênção da pureza perdida.
Nos meus olhos nublados ficou gravado um vulto cinzento que espalho nas margens dos meus rios. Quero afogá-lo no sangue ardido que me desce do peito, mas ele resiste rasgando-me as veias, me avisando que nunca mais serei livre.
Quero o conforto da sombra, do afastamento, do silêncio amigo. Quero ser cúmplice de mim mesma: Uma guerreira ferida, vencida, sem armas e sem terras para onde voltar. Quero merecer meu perdão, calar os gritos dos meus erros e sufocar o arrependimento de minhas escolhas mal pensadas. Quero a amnésia eufórica dos alcóolatras, um esquecimento repentino que me afaste do vulto cinzento que cruza minhas noites e arrebata minha alma.
Quero a delicadeza da inocência que um dia confiei em mãos amargas.
Quero que minha boca seque ao falar seu nome e que meu coração adormeça milagrosamente em paz, ainda que eu me recorde de tudo.