domingo, 28 de agosto de 2005

O que eu temia


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Eu achava que não era hora.
Eu achava que não tinha forças.
Eu achava que estava errada.
Eu achava que tudo mudaria.

Mas eu me enganava...
Sim,
já era hora.

(A hora até já passava)

E eu me iludia...
Sim,
eu tinha forças, e sabia.

(Eu apenas não queria)

Eu temia a verdade
Temia descobrir
em sopros
em sonhos
em sinais
Tudo o que ela me dizia.

quarta-feira, 24 de agosto de 2005

Fim do Mundo


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


O fim do mundo chegou
um dia antes...
e tudo apagou

o fim do mundo chegou
em poucos instantes
e nada restou

um mundo de palavras
atravessadas
em bocas separadas

um mundo de afetos
negados
e olhares desleais

um mundo de soluços
de saudades
e de abraços, não mais...

sábado, 20 de agosto de 2005

Se...

Se por um momento tivesses colocado em tuas mãos a sensibilidade da velha mulher que tece rendas... Se tivesses me olhado com a pureza dos amigos e com a urgência dos apaixonados... Se houvesses me abraçado com encanto e sussurrado uma palavra a toa, uma brincadeira qualquer sobre minhas manias ou sobre as sardas da minha pele... Se por um momento tivesses colocado poesia na alma e parado para optar entre fazer o que teus instintos mandavam ou me surpreender com tua lealdade... Se tivesses dito a verdade sem a intenção de ser cruel... Se tivesses ficado um pouco mais... Se tivesses me levado mais vezes a escutar tuas histórias e pequenos segredos... Se ao menos de vez em quando tivesses me comparado à mulher dos teus sonhos... Hoje eu talvez nem estivesse a teu lado, mas não passaria os anos que me restam com esse gosto amargo na boca, com esse peito dolorido, com essa sensação de que fui reprovada no teste mais importante de minha vida.

segunda-feira, 15 de agosto de 2005

Neverland

Há um mundo escondido. Um lugar cheio de músicas que tocam alto, aquecendo meu coração e nublando tudo em volta. Esse mundinho é cheio de praças, de velhas casas pintadas de branco, de caminhos compridos e um mar azul batendo na praia. Há crianças desenhando no cimento com pedras coloridas nas mãos. E lá, os finais de tarde são cor de laranja, nostálgicos.
Há pessoas que caminham nesse mundo. Elas vêm e vão, dizendo ou fazendo coisas que ninguém mais sabe. Algumas delas nunca se encontram, não se conhecem, e talvez nem saibam que moram ali. Essas pessoas parecem desconhecer o tempo, não envelhecem e nem morrem, estão sempre iguais, cristalizadas pela mágica da memória.
Não, esse mundo não é perfeito. Nele há alegrias, mas também há sofrimentos terríveis, há lembranças que machucam e muitas perdas... Perdas inaceitáveis e repentinas ou inevitáveis e esperadas. Há portas fechadas, que encerram imensas salas cheias de retratos amarelados pendurados pelas paredes. Lindas fotos tiradas durante uma vida inteira por alguém que adora colecionar emoções.
Esse mundo eu visito sempre. Fico ali tempos esquecidos e, a cada vez que retorno, pareço diferente. Nele tudo acontece como numa ebulição: Borbulham histórias de velhos livros, beijos e abraços que não perdem o sabor, cartas amarradas com fitas azuis em fundos de gavetas, nascimentos, mortes, amores não correspondidos... E uma menina... Uma menina com vestido azul marinho e flores amarelas bordadas pela mãe, que corre sozinha atrás de um pequeno cachorro marrom.
Abro os olhos e choro.

domingo, 14 de agosto de 2005

Apatia

Tem dias em que estou mal. Fico com saudades da pessoa que fui, num tempo em que o futuro me acenava promessas. Havia em mim, guardados, certos sonhos que o tempo se encarregou de mostrar que possivelmente não se realizariam. Mas eu ainda acreditava em destino, em acaso, em sorte.
Aquela época dourada passou e veio uma outra, em que eu comecei a lutar, a batalhar arduamente para conseguir resgatar alguns fragmentos de sonhos que não haviam me abandonado. Era a fase da construção, do presente, da semeadura. Mas hoje entendo que nem tudo dependia de mim e que, infelizmente, não me sobrou muito impulso. Acabei ficando cansada e descrente.
A ousadia e a esperança da juventude parecem ceder, a cada dia, espaço para o medo, para a precaução e apatia.
Dizem que frustrações e tristezas são comuns, logo passam, mas não é bem verdade. Tristezas imobilizam, mesmo quando as causas são conhecidas, mesmo quando você deseja ir em frente.

sábado, 13 de agosto de 2005

Loucuras

Nossas maiores loucuras podem ser as responsáveis por nossas mais impensadas alegrias. Ser louco de vez em quando, sem causar danos a outros, sem ferir sentimentos alheios, pode nos tirar da sufocante rotina de uma vida cinza e previsível. Pode sacudir o pó dos pensamentos. Pode fazer um velho e cansado coração voltar a pulsar como fazia aos 17 anos.
Cante...
Grite...
Pule...
Permita-se...

Parece loucura, mas uma vida sã precisa de um pouco de insentatez.

sexta-feira, 12 de agosto de 2005

Coração


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Segura teu passo
ajeita teus freios
não me faças vergonha
com estes atos insanos

Pareces pulsar,
mas vives aos pulos
contigo não me acerto
já não te aguento no peito

andas na frente
a passos largos
compridos, ligeiros
e a razão não te alcança

Se numa dessas corridas
levas um tombo
ai... Pobres de nós
pois sangro contigo.

quinta-feira, 11 de agosto de 2005

O Grande Espetáculo

Augusto Cury, psiquiatra e escritor, costuma aconselhar incansavelmente seus leitores: "Sejam os atores principais de suas vidas. Subam no palco, enfrentem a platéia e mostrem-se, sem máscaras".

Quem age dessa forma deve preparar-se de antemão para ouvir vaias ou aplausos, não importa. O que importa é conduzir o espetáculo e não deixar que outros escrevam sua história, que lhe digam como agir ou em quê acreditar.

O citado escritor ainda afirma que esse é um dos caminhos para a felicidade: ter o domínio sobre as suas próprias escolhas. Pode ser... Mas certamente não será uma tarefa das mais fáceis, pois quantos de nós, mesmo descontentes com a forma como o mundo anda, seguimos os costumes atuais por medo de cairmos na solidão e no isolamento? Tornamo-nos escravos de idealismos, modismos, instintos e do tão alardeado individualismo, que ao final só beneficia os mais fortes e os mais espertos.

Talvez esse mundo seja mesmo um imenso palco, e todos os dias tenhamos nossa oportunidade de subir nele e abrir nossos olhos, corações e pulmões para o grande espetáculo. Cada um de nós deve ter seus potenciais: Uns serão tenores, outros malabaristas, ilusionistas, bailarinos e alguns, infelizmente, apenas títeres.

Precisamos escolher com cuidado que personagem enfrentará os holofotes, porque a cortina já está aberta há tempo mais que suficiente, e talvez só tenhamos essa oportunidade uma vez...

quarta-feira, 10 de agosto de 2005

É Hora


Foto: Imagem do Google, desconheço a autoria.


Vai, meu amor, que é hora
Lágrimas secam
Amores também
Nosso tempo passou
O novo te acena
Vai, meu amor, vai embora
O que me deste, fica
O que me disseste, também
Sem saberes
deixas comigo
aquilo que desconheces:
Um lado teu
que somente eu vi...

Vazios

Fico a imaginar se, dentro de nós existem mesmo espaços vazios. Quantas vezes nos referimos às perdas, às dores, às tristezas, como grandes sensações de "vazios" no peito e na alma?
Mas, se por falta de cuidado, nosso ou alheio, morrem os nossos jardins; se por tormentas e furacões que o tempo traz, devastam-se nossas mais queridas plantações e ficam no seu lugar enormes terrenos baldios a nos lembrar do que um dia esteve ali, mesmo assim não ficamos vazios e nem seria justo dizer que nada nos restou.
Quem sabe não nos falte, meros humanos que somos, apenas aprender a suportar melhor ou a aceitar as inevitáveis mudanças, as possíveis perdas e distanciamentos, a fatal insuficiência de retribuições de afeto de quem mais esperamos? Sim, nossa força é limitada, enquanto nosso medo parece não temer fronteiras, mas quando tudo parecer perdido, não cultivemos vazios, não pensemos que tudo se acabou e que de nada valeu.

segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Sobre as folhas...


Foto: Acervo Image Bank


Há folhas que são prematuramente arrancadas de seus galhos pelo vento. Verdes ainda, jovens... Ficam assim com suas vidas ceifadas, mas nos breves instantes em que voam pelos ares, em que são levadas pelas águas e tempestades, conseguem ver o mundo de uma forma que, se ainda presas aos galhos, seria de todo impossível. As folhas que restaram nas árvores, provavelmente viverão mais, envelhecerão e cairão no solo sem ter visto nada. As folhas arrancadas pelos vendavais imaginam-se livres, vestem fantasias de pássaros e borboletas pelos céus, embora tudo não passe de um sonho fugaz. As folhas das árvores, aparentemente seguras, não conseguirão jamais imaginar coisa alguma.

domingo, 7 de agosto de 2005

Tudo e Nada


Alçava vôos improváveis de uma sacada de apartamento. Ia aonde queria nas madrugadas escuras. Enfrentava longas noites de insônia para arrastar-se sonolenta ao longo dos dias. Amava e odiava intensamente. Vivia entre extremos dolorosos. Chorava, se desesperava, tinha medo da vida e da morte. Não era rebelde, apenas inconformada. Não era descrente, apenas restavam-lhe poucas esperanças. Não compreendia a si mesma, mas secretamente esperava que outros conseguissem fazer isso.
Vivia entre o tudo e o nada. Cada dia de paz e alegria tinha um valor enorme para alguém que se alimentava de conflitos, de cizânias, de eternos questionamentos. Não definirei aqui essa pessoa insana, mas sim à própria desarmonia de sua consciência. Estas linhas não lhe refletem, nem a sua realidade nem a sua fantasia; simplesmente não refletem nada... Pois assim tudo fica mais fácil e coerente.
Suas carências ficam escondidas embaixo de travesseiros.
Seus sonhos ela deixou não sabe bem onde...
O que estiver aqui pode parecer tudo, mas é provável que não signifique nada.